DA GUITARRA À VIOLA

Ricardo Vignini (Matuto Moderno)
Da mistura de ritmos contemporâneos com a música regional do sudeste surgiu o Matuto Moderno. Mais do que buscar um estilo original, a banda pesquisa e tenta resgatar as tradições da cultura popular. Já são dois CD´s lançados: Bojo Elétrico (2000) e Festeiro (2002), e ao lado de bandas com propostas parecidas (Caboclada, Mercado de Peixe entre outras) eles são um dos ícones do movimento conhecido como Pós-Capira ( ou Rock n´ Roça, ou ainda Caipira Groove). Falamos com um dos idealizadores do grupo, Ricardo Vignini, guitarrista e violeiro. 


O que é ser Matuto Moderno? 
Ser Matuto Moderno é ainda ser matuto em 2003! Dar valor à nossa verdadeira e ancestral cultura com todos os aparatos tecnológicos que temos a nossa disposição.

Quais as principais referências musicais?
O Matuto tem uma longa bagagem individual, a mais variada o possível, não dá pra esquecer os mais de 10 anos em que tocamos rock, blues, etc... mas no momento as maiores fontes de inspiração do Matuto Moderno são as duplas de música raiz mais importantes, como Vieira e Vieirinha, Tião Carreiro e Pardinho, Tônico e Tinôco, entre outras e os mestres da cultura popular do sudeste, Folias de Reis, Congados, Dança de Santa Cruz, Catira, Dança de São Gonçalo, entre tantas manifestações.

O núcleo principal do Matuto Moderno veio da banda Cheap Tequila. O que impulsionou a mudança do blues para a música de raiz? 
Justamente a semelhança entre os estilos. Sempre gostei dos guitarristas de country blues como Mississipi John Hurt, Lonnie Johnson, Reverend Gary Davis, todos estes caras tem, lá fora, um amplo material didático registrado. Quando eu comecei a tocar viola caipira tive muita dificuldade em achar material dos provedores da música raiz, o que, graças a Deus, já esta mudando com os bons livros do Roberto Corrêa, Braz da Viola, Fernando Deghi, Rui Torneze, etc. Aí, eu percebi que as semelhanças não são só musicais, mas também nas lendas e no estilo de vida. Em novembro eu e o gaitista Sergio Duarte vamos estar em turnê pelo Brasil com o multiinstrumentista norte americano Bob Brozman este cara é uma autoridade no blues, mandei uns CD's de viola pra ele e ele pirou! Esta turnê terá esse clima de fusões de raízes.

Existe o movimento pós-caipira? Vocês têm contato com as outras bandas?
Existe, é uma movimentação intensa. Tenho bons amigos nas bandas Fulanos de Tal, Caboclada, Saci Crioulo, Dotô Jéka, Mercado de Peixe, Trem da Viração, Jerry Espínola & Croa, gosto de estar em contato com este pessoal, é um excelente aprendizado.

Como tem sido a receptividade do som entre os violeiros? E no meio pop/rock?
Muito boa, graças a Deus. No começo eu pensei que iríamos sofrer algum tipo de preconceito do pessoal da musica de raiz, o que não aconteceu, no "Festeiro" tem a participação dos violeiros Pena Branca, Pereira da Viola, Cícero Gonçalves, um arranjo do Ivan Vilela, Grupo Catira Brasil, Companhia de Santos Reis de Altinópolis e Santo Antônio da Alegria. Já tocamos e gravamos com o Chico Lobo, João Ormond, Vinícius Alves, Helena Meireles, Levi Ramiro, as Orquestras de Viola, participamos dos principais eventos de cultura popular do Brasil. Agora o povo do pop, começa a perder o preconceito, estão procurando o passo pra dançar cateretê, cururú, pagode de viola...

O que é o festival Caipira Groove? Existem outros semelhantes pelo Brasil?
O Caipira Groove é um projeto que tem um clima maravilhoso! Esta segunda edição e acontecerá entre 05 e 07 de setembro no Sesc Campinas, reunirá 12 das bandas mais legais de São Paulo atualmente, fora shows de grandes violeiros consagrados e grupos de cultura popular,a programação detalhada está no www.caipiragroove.com. Em novembro também ira acontecer um grande projeto pelo Centro Cultural Banco do Brasil chamado "viola turbinada" simultaneamente no Rio e em Brasília com o Fulanos de Tal, Tuia e o Dotô Jéka, Jerry Espínola & Croa e o Matuto Moderno.

Música caipira ainda é confundida com musica sertaneja? Explique as diferenças.
No começo do século pasado música sertaneja era considerada a música regional do nordeste, e a caipira o sudeste. Com o passar dos anos toda dupla de São Paulo era chamada de música sertaneja, só que com o aparecimento das duplas românticas de hoje em dia aconteceu esta confusão onde o pessoal prefere ser chamado de música raiz ou música caipira.

A guitarra tinha uma forte presença no primeiro cd (Bojo Elétrico, 2000) ao contrário do segundo (Festeiro, 2002). Por que a guitarra foi deixada de lado? Voce abandonou o instrumento? 
Na real a "minha" guitarra tinha uma forte presença no Bojo Elétrico, cargo que hoje ficou com o Alex, você pode escutar guitarras bem legais dele em faixas como "Caminho das Águas" e "Curva de Rio" do 'Festeiro'. Não abandonei, só estou tirando umas férias, pois tocar viola requer muita dedicação, se não, eu soaria um guitarrista tocando viola e não um violeiro.

Considerações finais.
Estou muito contente com a força que a mídia vem dando a nos e a nova música raiz e também com os lançamentos que irão sair este ano: o CD "Sarau Paulista de Viola" com Pena Branca, Fulanos de Tal, Chico Lobo, Matuto Moderno, Ivan Vilela, Vinícius Alves, Fernando Deghi, Cícero Gonçalves e Pereira da Viola, deve sair pela Kuarup. O CD "Moda Nova" - Caipira pop - vai sair pela Obi Music com Caboclada, Matuto Moderno, Dioni Zica, Saci Crioulo, Fulanos de Tal e Mercado de peixe. Além desses, tem os lançamentos do nosso próprio selo a Folguedo com distribuição da Tratore que são: "Música Raiz, Catira e Folia de Reis" com Oliveira e Olivaldo, Os Favoritos da Catira e Os Mensageiros de Santos Reis; o relançamento dos nossos 2 primeiros CD's; "Contém Música do Interior" do Fulanos de Tal e "Tambor do Congo" com o grupo de batuque de Umbigada de Tietê, Piracicaba e Capivarí.

* por Eduardo de Souza 

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