Deep Purple e a Bruxa

AS PESSOAS RIRAM ATÉ ELA DIZER: “QUEIME”!

Após a saída de Ian Gillan e Roger Glover, em 1973, o Deep Purple precisava continuar justificando sua existência como banda no mundo da música, para isso, contaram com a presença do ex-vocalista e baixista do grupo Trapeze, Glenn Hughes, e com um jovem e desconhecido cantor chamado David Coverdale. Juntos com um dos membros fundadores do Purple, o genial e genioso guitarrista Ritchie Blackmore, Hughes e Coverdale foram responsáveis por escrever uma das mais poderosas músicas da história do rock. Ela simplesmente se chamou 'Burn'.

De acordo com Jerry Bloom, biógrafo de Blackmore, o riff dessa música foi “emprestada” da canção ‘Fascinating Rhythm’, que faz parte do musical "Lady, Be Good", de Fred Astaire, de 1924. A música foi composta pelos irmãos George e Ira Gershwin. No YouTube é possível encontrar a versão instrumental de George para 'Fascinating Rhythm', onde basta uma audição de 20 segundos para encontrar a inegável “inspiração” de Ritchie para seu riff destruidor. Com o riff e algumas ideias a mais, ele passou a responsabilidade da co-autoria da música para os novos membros da banda, David e Glenn.

Todos sabiam que Ritchie era fascinado por lendas medievais; histórias de feiticeiras e contos sobrenaturais, ao que tudo indica Coverdale teve a ideia da letra, possivelmente para agradar o novo parceiro, acertando em cheio ao relatar a história de uma bruxa que queima um povoado “com um aceno de mão”.


ELA VEIO DO ESPERMA DO DEMÔNIO

A caça às bruxas foi uma prática difundida, especialmente na Europa entre os séculos XV e XVIII. De origem católica, teve início com o Concílio da Basiléia, onde entre 1431 e 1437, foi determinado o padrão de uma bruxa satânica. O que foi decidido por lá, serviu de base para os futuros julgamentos e condenações.

Acredita-se que as principais perseguições da Igreja recaía sobre as mulheres que viviam de maneira diferente da aceita pela sociedade. Desde então, muitas lendas e histórias surgiram a respeito desse período. Essa foi a fonte de inspiração para o novo vocalista do Deep Purple.

Mas ao contrário do imaginário tradicional, onde a mulher é condenada à fogueira, na história de Coverdale é a bruxa quem põe fogo no vilarejo. A letra, cantada em primeira pessoa, conta com temor o olhar de uma vítima da bruxaria. Por outro lado, também mostra que a bruxa foi provocada até demonstrar sua força, ao dizer que “as pessoas riam” dela, e não acreditaram em seu poder.

Coube a Glenn Hughes cantam:”Você sabe que não tivemos escolha, não pudemos nem tentar”. Era tarde demais, a  mulher amaldiçoou o vilarejo e queimou tudo, ninguém foi poupado.


QUEIME

Jon Lord e Ian Paice, os outros membros do Deep Purple, deram suas contribuições e a 'Burn' foi lançada em fevereiro de 1974, a música era a faixa de abertura do álbum que possuía o mesmo nome, a nova formação logo mostrou a que veio. Apesar da capa ser uma das piores de todos os tempos (a fotografia de velas com o rosto dos músicos esculpidos, acesas e derretidas), a música se tornou um clássico e continua sendo capaz de incendiar (desculpem-me o trocadilho) qualquer ambiente quando executada com perfeição por qualquer banda em qualquer lugar do planeta.

Quatro décadas e meia depois do seu lançamento, podemos interpretar a letra nos dias atuais como uma dica de sabedoria do, hoje titio, David Coverdale. Tirem a inspiração medieval, tirem a bruxa, tirem a cidade posta em chamas. O que a letra na verdade quer dizer é: “nunca deixe uma mulher furiosa”.

Ou ela diz… Queime!


* por Eduardo de Souza 

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