PUNK IS NOT DEAD?

O espírito Punk morreu? Não existe mais aquele fenômeno de contra cultura e vontade de romper com os padrões e as chatices do mundo? Na verdade a ausência daquele sentimento adolescente (que ainda existe em gente na casa dos 30 anos), começou a se deteriorar na segunda metade dos anos 90. O Punk como movimento começou a dar mostras de diluição depois da morte de Kurt Cobain, que talvez tenha sido o último dos "moicanos" deste gênero. Grunge foi um nome que algum espertinho da mídia inventou de última hora para definir o novo Punk.

É verdade que o Punk nasceu dos cérebros capitalistas de Malcolm McLaren e de Vivienne Westwood, mas também é verdade que a "moda" da vestimenta punk e da música punk foram cooptadas das ruas (e não criadas a partir do nada) através de vagabundos que eles pegaram como exemplos, como John Lydon (Johhny Rotten) que mais tarde fez parte dos Sex Pistols, portanto, o "Punk" nasceu de uma armação do próprio Malcolm. Mas vamos desmistificar um pouco essa coisa de dizer que o "movimento Punk nunca existiu".

Depois da "grande idéia" de Malcolm, as coisas começaram a tomar proporções que nem ele imaginava. A classe proletária (jovem) inglesa, se identificou com o estilo das novas levas de bandas, que começaram a fazer músicas primando pela crueza e falta de técnica (Ska/Two Tone e Hardcore), já que os mesmos não sabiam tocar e não pagavam escolas de músicas como os filhos dos ricos. As músicas também representavam um grande "NÃO" ao que estava vigente na época, a "malice" de grupos de Rock como Yes, Genesis, Pink Floyd e outros que mais tarde chamaram de Progressivo. Essas bandas eram integradas por estudantes de música que podiam pagar pelo conhecimento, diferentemente da classe proletária. Além disso, faziam questão de mostrar sua diferença. Era o grito suburbano contra o grande poder, contra a música dos ricos burgueses, dos chatos, dos velhos. Os jovens do progressivo eram considerados velhos pelos Punks, por estarem se encaixando no esquema da geração de seus avós que, consequentemente, chamavam o rock dos anos 50/60 de música pobre.

Isso era o pensamento vigente (por volta de 1976/77), nessa época pós-hippie o Punk era totalmente underground na Inglaterra, nem tinha as proporções de mídia como o conhecemos hoje. Esse pensamento era totalmente natural, já que um gênero sempre tenta contradizer o anterior desde a época de movimentos como Classicismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo etc... Um sempre contradizendo o outro. Uma geração sempre tende a esmagar a outra como dizia Morrissey (Smiths).

No Brasil, a coisa sempre toma um rumo pitoresco devido a falta de informação e por sua cultura heterogênea. Depois da explosão do B-rock (ou Rock Brasileiro vindo de Brasília inspirado pelo Punk inglês), por volta de 1986, o movimento Punk chega aqui com atraso de 10 anos (graças a nossa ditadura).

Começam pipocar "Punks" de todos os lados, principalmente em São Paulo. Havia uma verdadeira guerra de sons entre os chamados "Funções", que gostavam de roubar os tênis dos boyzinhos. Estes, sempre entravam na última onda e gostavam de todas as modas bestas que apareciam.

Os "Punks" mais radicais que absorveram de modo errôneo o sentido do movimento, entendiam que ser Punk era cuspir, quebrar e estigmatizar quem não se encaixava em seu estilo. Não era bem isso, tanto é que os mais radicais sumiram, ou estão em um número bem reduzido atualmente.

Chegaram os chatos e "politicamente corretos" anos 90, onde ninguém pode falar mal livremente de ninguém e não pode haver perseguição devido ao estilo, perdeu um pouco a graça, tudo começou a se diluir e ficar chato novamente. Os Punks sobreviventes(que falavam e cantavam e não quebravam), se tornaram velhinhos ( O Clemente dos Inocentes hoje é quarentão), casaram, fizeram família, etc, o único que sobrou como João Gordo, virou uma espécie de Punk que conseguiu chegar lá devido à mudança da mídia e a aceitação dos padrões antes tidos como incorretos, um Lula dos Punks, se encaixando no esquema, ele tá certíssimo, a mídia é que mudou, não ele! Fodam-se os hipócritas!

A geração pós-Bozo que cresceu vendo e ouvindo o monstro Xuxa, quando completaram 14 anos, começou a curtir os vários estilos de Rock consagrados. Essa é a turma que não tem preconceito com relação ao estilo de Rock (com exceções, claro), portanto gostam de Yes e Ramones ao mesmo tempo (quem diria que isso aconteceria!). Eles escaparam, mas pouco depois veio a geração "convenção", contrária à geração Coca-Cola que ia "cuspir o lixo em cima deles" como cantava o maravilhoso Renato Russo. Essa é a geração que curte "pagode" e "axézinho" e se acham brasileiros originais, porque saíram da favela e ficaram famosos, mas têm cérebro de tatu.

Mas ainda existe aquele bom e velho espírito (do contra) escondido por aí nas garagens! Faz-se necessário uma renovação desse espírito! As coisas estão muito insossas por aqui!

Ninguém grita mais a verdade? Ninguém diz que o que está tocando nas rádios e passando na TV é uma grande porcaria? Que esse "paz e amor" declarado entre os gêneros musicais é falso? O politicamente correto não existe e a geração vindoura será a mais incorreta possível, acreditem! Que seja bem vinda pois a última (cujos indivíduos estão com 15 à 20 anos hoje (com exceções claro), morreu, falhou, entrou em uma inércia inescapável! Vivem repetindo o que o papagaio do passado fala. Quando entram na faculdade dizem para eles que Chico , Caetano e Gil são bons, daí entram num cabecismo sem saída, eles até podiam ser bons, Beethoven também era, mas se ficassem com medo de inovar ninguém teria saído do século XV! Ao mesmo tempo vivem produzindo de um lado e comprando de outro Kelly Keys, Sandy e Júniors e por aí vai! Até a Babi tá fazendo CD! E tem gente que compra! Fazer o quê?!?

Deus nos salve!

Para finalizar Supla! Pobre rapaz, ele quis ser Punk, tinha boa intenção, mas nasceu rico, copiou o Billy "Butique" Idol que também tentou ser Punk. Ele esqueceu que Os Replicantes vieram antes e cantaram "Ele quer ser Punk!" e "Já briguei cpm Chico/Já peguei no pé do Gil.../Eu quero que o Caetano..." . Perto disso, com sua "Japa Girl" ele perde feio e de Punk, fica só o visual criado por Vivienne Westwood. Punk é mais do que isso!

Punk é falar o que não querem ouvir!

* por Alexandre Halliday 

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