VENTURA

Bruno Medina (Los Hermanos)
Contra tudo e contra todos, os cariocas do Los Hermanos lançaram-se em uma nova aventura fonográfica. Depois do energético primeiro disco auto-intitulado (1999), do surpreendente "Bloco do Eu Sozinho" (2001), agora é a vez de Ventura desfilar inteligência, sentimentalismo e atitude anti-pop. O disco foi pré-produzido no isolamento de um sítio no interior do Rio de Janeiro, longe do agito e do caos dos grandes centros urbanos. Barbudos e "largados" Camelo, Amarante, Medina e Barba parecem querer fugir de rótulos, da mídia e de qualquer forma de glória. Os hermanos apenas procuram, como eles mesmo definiram, "fazer música de acordo com o que somos, ainda que no momento seguinte sejamos uma outra coisa". Entrevistamos Bruno Medina, o tecladista do grupo, e com ele tentamos descobrir quem são esses caras estranhos. 


A banda surgiu no underground carioca e explodiu no Abril Pro Rock, fale sobre o começo da banda, e como foram convidados a participar do festival.
A banda começou na PUC em 1997. Fazíamos shows pelo Rio em espaços alternativos até que nossa demo caiu nas mão do organizador do festival. Ele gostou e nos chamou pra tocar.

As letras sempre demonstram um cuidado poético. Quais as inflûencias literárias da banda?
Variam de pessoa para pessoa. Eu particularmente gosto muito do Veríssimo e do Gabriel Garcia Marquez.

Vocês conheceram o céu e o inferno com Anna Julia. De hit de verão a lixo-pop, a música ganhou inúmeras versões e numa delas até George Harrison e Ian Paice tocaram. 'Anna Julia' é um fantasma ou uma benção para os Los Hermanos?
A música fugiu do nosso controle, se tornou muito grande. Acredito que seja mais uma benção do que qualquer coisa.

É verdade que a gravadora não aceitou a primeira versão do "Bloco do Eu Sozinho" por julgá-lo anticomercial? Como foi?
Sim, pediram para regravar o disco, não topamos e acabamos aceitando fazer uma remixagem para que ele saísse.

Fale sobre os trabalhos paralelos dos integrantes. E o quanto influenciam no som do Los Hermanos?
O único que participa de algo fora o Los Hermanos é o Rodrigo. Por enquanto não existem projetos paralelos.

O primeiro disco foi um sucesso comercial, o segundo um sucesso de crítica. Qual a expectativa para o novo disco? E o que traz maior satisfação, ser ovacionado pela multidão ou receber os aplausos dos críticos?
Não fazemos músicas pensando em quem vai nos aprovar. Fazemos música para nós em primeira instância e quem quiser gostar será muito bem vindo. O primeiro disco vendeu muito por que tinha a música de maior sucesso do ano, não estavam comprando o conceito da banda. Já com o Bloco as pessoas se aproximaram mais de nossa música, e isso é algo que dura pra sempre, percebemos isso nos shows.

"O Bloco do Eu Sozinho" e "Ventura" foram pré-produzidos em um sítio, de onde surgiu essa idéia?
Não lembro. Foi algo que achamos que seria proveitoso para diminuir a pressão, e deu certo.

E por que o nome "Ventura"?
Porque o significado combina com o momento em que a banda se encontra.

"Ventura" está sendo considerado pelos críticos uma extensão do álbum anterior. Concordam com essa afirmação?
Concordo no sentido que um veio depois do outro. O primeiro disco tem um bate-bola na capa, assim como o Bloco. Todos os discos estão relacionados na medida que são feitos por nós.

Vocês se preocupam em buscar uma estética própria?
Não, buscamos estar contentes com o que fazemos. Se isso pode ser chamado de estética então temos uma própria.

Existe a intenção de fazer uma música atemporal?
Sim. Não acho isso pretensioso. Quem faz discos para serem o sucesso do verão não é músico, é entertainer.

Em muitas declarações, vocês afirmam buscar a liberdade artística na hora da criação, pouco importando o resultado comercial. "Ventura" conseguiu satisfazer as expectativas da banda como criadores?
Sim, se não não seria lançado. Lançar um disco é uma grande responsabilidade, não se deve pensar em momento de mercado, só fica pronto quando acaba e quando está bom.

Vocês ainda tem contato com o underground? Alguma banda a destacar?
Muito pouco. Quando viajamos fazemos shows com algumas bandas e as conhecemos na medida do possível, mas hoje em dia estamos muito afastados do que vem surgindo.

Qual o conselho aos jovens que pretendem abandonar os estudos e montar uma banda de rock?
Façam o que o coração mandar. O resto a gente ajeita com o passar dos anos.

* por Eduardo de Souza 

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